12º Dia: O assalto…

Muito bem. Notícias boas e notícias não tão boas hoje. É claro que vamos começar pela boa…

Chegamos em LIMA! Primeira etapa da viagem (ano novo em Lima) cumprida. Agora é descansar alguns dias por aqui e seguir para Quito. O bairro de Miraflores é sensacional! Acho que escolhemos muito bem onde passar essa virada de ano… (obrigado pelas dicas dadas, amigos!)

No entanto, o dia não começou tão bem assim. Acordamos e saímos para o “desayuno”. O hotel, como quase sempre, oferecia café da manhã continental. Quatro pãezinhos duros (do tipo peruano), dois pedacinhos de manteiga, um suco de mamão com abacaxi, ovos mexidos e café com leite. Comemos, “sacamos” algumas fotos do hotel, pois era bem bonito, e saímos com a pretensão de visitar uma bodega de vinho e pisco antes de seguir para Lima. O problema é que precisávamos sacar algum dinheiro antes.

Havia um resort à frente do nosso hotel onde tinha um “cajero” de banco. No entanto, o segurança não nos deixou entrar, dizendo que era somente para hóspedes, e indicando que passássemos no centro para sacar dinheiro. Chega até a ser engraçado, mas cidades até grandinhas aqui (como a cidade de Ica) só dispõem de caixas automáticos no centro.

Como não havia jeito, fomos ao centro.

Lembram-se do trânsito infernal com os tais mototáxis que havíamos contado? Durante o dia é pior! Seguimos pela avenida que levava ao centro e vários já começaram a surgir. Não tem como não achar interessante e querer registrar aquilo tudo. Quanto mais próximo do centro, mais impossível de se andar. As ruas são tomadas por eles, onde há momentos em que simplesmente paramos.

Um pouco antes, resolvemos filmar, com o celular grudado no meio do vidro da frente, para depois postarmos aqui no blog e vocês terem ideia do que estamos falando. Pois bem, celular no meio do vidro, vidros laterais fechados, seguimos pela avenida. Quando faltavam cerca de duas quadras para a praça central, o trânsito travou. Com aquelas centenas de mototáxis e táxis nos rodeando, para não correr o risco de ter o carro riscado ou algo pior, resolvemos pegar uma rua que nos tirasse do centro. Mas a quantidade era tão grande que resolvemos abrir um pouquinho uma das janelas para tirar uma foto. Sabem aquele “momento turista” que temos quando conhecemos algo novo? Era um momento desses. Vidro aberto, tentando tirar uma foto, e com a tira da máquina presa à mão e ao pescoço para que ninguém tentasse roubá-la. O problema é que esquecemos do celular no vidro. Resultado:

É isso mesmo. Um peruaninho muito lindinho se enfiou para dentro do carro, arrancou o celular com o suporte do vidro e saiu correndo. Vocês podem vê-lo no vídeo de camiseta branca passando pela frente do carro um pouco antes. O problema é que aquele celular também continha todos os mapas do Peru e do Equador. Sem ele estaríamos perdidos nas cidades grandes, principalmente Lima, para onde estávamos indo.

Agora as histórias se dividem, entre a da passageira que não sabia dirigir e a do motorista que não pensou duas vezes.

A PASSAGEIRA:

Imediatamente, fechei os vidros do carro com receio de ter mais algum ladrão do bando na redondeza e ter outro pertence furtado. Comecei a clamar por “Santíssima Trindade” (minha proteção nas horas de perigo) e rezar, rezar.. Com as mãos trêmulas, queria guardar a câmera fotográfica, mas e a tampinha da lente? Resolvi guardar sem a tampa e a encontrei na bolsinha da câmera. Depois de conseguir guardar a máquina fotográfica, a coloquei escondida na parte de trás do banco.

Bom…desliguei o carro e acionei o alarme, nem me dando conta de que o carro estava no meio da rua e na virada da esquina. Fiquei bem quieta para não mexer e disparar. Logo, pensei no que poderia ter ocorrido…e se o bandido estivesse armado?…e se estivesse com comparsa?…onde ele estaria?…como faríamos sem o gps do celular?…. Restava rezar e rezar….

Foi então que pelo estontear do coro das buzinas dos carros e olhares das pessoas que transitavam e carros que passavam, percebi que o carro estava no meio da rua. Meu Deus!! Pensei em sair do carro? Mas e se me abordassem querendo levar tudo?; Poderia tentar andar com o carro? E se eu batesse em outro carro ou atropelasse alguém, seria ainda pior; Pensei, também, que não poderia sair dali pois ele não me encontraria mais naquela cidade.

Decidi ficar no meio da rua para chamar atenção mesmo e principalmente ser abordada por algum policial.

Esses minutos pareciam uma eternidade e ele não retornava. O que aconteceu? Bom…eis que ele aparece todo pálido e sem ar…

O MOTORISTA:

Eu achei muito estranho esse cara passando na frente do carro com tanto espaço para que eu andasse. Os pedestres daqui costumam ter um cuidado bem maior ao atravessar. Mas quando olhei para ele, tive a impressão de que estava olhando a pickup que estava ao meu lado na rua, e não para dentro do nosso carro. Quando percebi a presença dele na lateral já não havia mais tempo para fechar o vidro. Ele colocou a cabeça e metade do corpo pra dentro do carro, eu segurei o braço dele, mas não tinha como segurá-lo daquela forma. Ele puxou e se safou.

Eu tinha que recuperar aquilo, senão atrapalharia demais a viagem. Abri a porta (o engraçado é que ainda tomei cuidado para não batê-la no mototaxi que estava parado do nosso lado), olhei pra trás, avistei o meliante correndo na rua que havíamos acabado de andar, olhei para os lados para ver se haviam outros, falei para a passageira fechar o carro e parti em disparada. Ele parecia não acreditar que eu correria atrás dele. Só começou a correr mesmo quando me avistou caçando-o.

Eu não sabia o que gritar. Na hora inventei um “LADRÓN! LADRÓN!“, mas eu nem sabia se era daquele jeito mesmo que se chamava um larapio em espanhol. Ele virou a primeira esquina à direita. Eu estava há uns 20 metros dele. Quando também virei a esquina, avistei uma ruela vazia e de terra. Fiquei com receio que estivesse me levando para um lugar pior, mas como vi algumas mulheres numa lojinha no meio da rua e no final uma outra rua asfaltada e movimentada, continuei correndo.

Já tentaram correr forte gritando alto? É difícil, pois o fôlego necessário para a corrida, perde-se gritando.   O pior é que eu estava há 10 dias praticamente sentado no banco de um carro o dia inteiro, sem exercícios físicos.

Enquanto corria nessa rua de terra comecei a lembrar do carro e da passageira. Eu sabia que ele tinha insulfilmes de segurança, então com os vidros fechados seria muito difícil de alguém quebrar. Mas eu não sabia o que poderia estar acontecendo por lá. Como o peruano que nos roubou era muito “pé de chinelo” e nenhum outro apareceu para me abordar, resolvi continuar a caçada por mais alguns metros.

Ele virou a outra esquina à esquerda. Quando eu cheguei na esquina, um rapaz com cara de playboy, de óculos escuros e uma motinha amarela (parecia aquelas motos para crianças) passou do meu lado e falou alguma coisa bem sério. Eu não entendi o que ele disse. Na hora pensei que estivesse com o ladrão. Parei de correr e comecei a pensar em voltar. Nisso o ladrão já tinha virado a outra esquina à direita, há uns 30 metros, e o rapaz da moto foi para o mesmo caminho que ele. Cheguei até a esquina e havia um grupo de uns 5 homens. Eles me viram e perguntaram se o cara que tinha passado havia me roubado, respondi que sim e parei por ali mesmo, eu tinha que voltar para o carro.

Quando eu estava dando meia volta, começaram a me dizer que haviam policiais ali na frente. Dei alguns passos no sentido dos policiais (era para onde o surrupiador havia corrido), mas eu queria voltar para o carro. Quando dei meia-volta de novo, esse mesmo grupo de homens me disse que a polícia havia pego o cara. Eu já não estava vendo muita coisa na minha frente. Faltava-me ar. A visão já estava um pouco embaçada. Como eles insistiram para que eu fosse até lá, voltei a correr.

Mais uma quadra e já avistei o rapaz da moto na frente de uma casa e um policial entrando. O rapaz me disse que o cara estava lá dentro. Entrei. Chegando nos fundos, uma mulher apareceu gritando para que eu e o policial saíssemos dali. Voltei à porta da casa, confirmei com o rapaz da moto que o ladrão estava lá dentro. Eu não sabia se o celular estava lá também, mas precisava correr de volta. Falei para o policial que iria buscar o carro (“Voy coger el coche!… Voy coger el coche!“) e corri de volta. Isso tudo aconteceu em menos de 2 minutos.

Nesse momento já quase não sentia mais as pernas. Passando em frente à ruela de terra, aquele grupo de mulheres gritou me chamando. Perguntaram o que o malandro havia roubado, eu disse que um celular e um suporte de carro. E uma delas correu para dentro e voltou com o suporte. “Es eso?“… “Sí!!! Eso e un celular. Muchas gracias!!“. Bom, pelo menos o suporte eu havia recuperado, mas o celular eu ainda não sabia. Ao cruzar a esquina correndo, topei de frente com um cara grandão e fortão, aliás foi o primeiro negro que vi aqui no Peru. Olhou-me feio, achei que iria apanhar depois daquilo tudo. “Lo siento! Lo siento!” e me pus a correr de novo, como se estivesse fugindo dele.

Ao chegar na rua, eu não tinha ideia de que era tão grande, parecia que a esquina não chegava nunca. E com a visão meio embaçada, não conseguia enxergar o carro de longe. Fui vê-lo quando estava há uns 5 metros de distância. Olhei pra dentro e ela estava lá, com cara de assustada, toda trancada, e um monte de carros buzinando atrás, é claro!!!

Entrei e fui dirigindo até a tal casa. Quando estava chegando, pensei que iria desmaiar. Parei, desci, entrei na casa de novo. Na porta um policial já me perguntou se eu iria dar queixa ou se só queria o celular de volta. O rapaz da motinha me incentivava a prestar queixa. O policial não parecia querer muito. Perguntei como faria, já que estava retornando ao Brasil em alguns dias, e ele respondeu que eu precisaria continuar no Peru. Então disse que só queria o celular de volta.

Quando cheguei no fundo da casa, um policial com um fardamento diferente (parecia o chefe deles) saía de um quartinho com o celular na mão e perguntando se era aquele. Respondi que sim. Ele me entregou. Perguntei se o rapaz estava lá dentro, ele disse que sim e me chamou. Quando cheguei na porta o rapaz estava quase de joelhos, pedindo desculpas. Disse que a mulher estava grávida, por isso precisava do dinheiro (história clássica, acontece em todos os países, né? Mas era pra droga mesmo…). Eu respondi que ele deveria pedir, e não roubar, pois quando rouba um estrangeiro, nós voltamos dizendo que todos os peruanos são ladrões (eu tinha o direito de dar uma liçãozinha de moral nele, não tinha?). O policial concordou comigo. Ele continuou pedindo desculpas com as duas mãos empalmadas. Saímos da casa.

Lá fora eu tentava me recuperar. Os policiais vieram conversar comigo. Pareciam “gente boa”. É claro que a conversa foi: futebol!. Já vieram me perguntando se eu torcia para o Flamengo. Vê se pode uma coisa dessas?!?… CORINTIANO!… respondi… E eles conheciam o Corinthians, estão vendo?!?! Clube de reconhecimento internacional!!!

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Depois do ocorrido, retornamos ao hotel para parar e descansar um pouco. Após, passamos naquele mesmo resort que não nos deixou sacar dinheiro. Explicamos o que aconteceu e nos deixaram entrar.

No caminho para Lima, paramos em “El Catador”, uma bodega de vinho e pisco, onde aprendemos como se faz o pisco e o vinho doce da região.

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Parreira na Bodega El Catador
Bodega El Catador
Bodega El Catador
Bodega El Catador
Bodega El Catador

Em Lima, fomos direto para o bairro de Miraflores. Arranjamos um hotel bom, bem próximo ao mar, e ficaremos por aqui até segunda ou terça-feira.

Rota de hoje:

DADOS – 12º DIA
Saída: Ica – Peru
Chegada: Lima – Peru
Distância percorrida: 312km
Pedágios: S/.19,50
Combustível: S/. 80,00
Hospedagem: $100,00
Refeições: S/. 62.40
S/. = Soles
$ = dólares